28.10.10

Acordar um Dia XLII

Acordar um dia com o futuro amarrotado e sujo.
Alguém me engelhou a vida enquanto dormia, uma maldade inútil.
Saio à rua sem o futuro e vejo outros como eu. Alguns escondem a pilinha por detrás de ideias muito esfarrapadas, outros riem, há quem voe como se nada importasse.
Vêm senhores de outros países olhar para a gente, dão-nos moedas e nós bebemo-las porque não temos bolsos nem temos nada. Os senhores dão-nos beijinhos na melancolia e depois partem porque se faz tarde. Nós ficamos, porque somos daqui, porque sublimámos o tempo à força de o não ter.
Ficamos assim quietos entre o mar e o estrangeiro, numa falha de mundo feita à nossa medida. A aprender coisas secretas e a deitá-las ao ar, ocupados no exercício louco de ser vento.
Num dia desatento serão os peixes a pescar-nos para o fundo, e nós vamos, nós vamos sem nada que nos prenda.

8 comentários:

  1. Continuo a crer de forma insana que não te chamas Camarneiro.

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  2. Eu continuo a crer de forma insana que sou de facto Camarneiro, mas é só uma opinião.

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  3. leva-me ao mário viegas, esse estrangeiro no meio.

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  4. Tropecei neste blogue. Arrisquei a leitura do 1º texto. Continuei. Saboreei cada fragmento de texto, deslumbrada. Virei espreitar com a regularidade que os textos me permitirem. Deixe-me ser sua leitora, Nuno Camarneiro (?)

    cristinamarques11@hotmail.com

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  5. Obrigado pelos elogios. Ainda que os escreva, os textos precisam dos leitores para se tornarem reais.

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