26.10.10

A Dar Com o Sol



Tu não sabes, não sabes nada, mas um dia acordei com certezas coladas à pele. A janela estava aberta e não era suor, era um líquido pesado e eu abri os olhos e percebi tudo.

O peso que levamos nas pernas é todo feito de tempo. Levamos o tempo de passeio nas pernas até que um dia… sabes? Um dia o tempo farta-se e trepa por nós acima e ficamos… sabes?

Um dia espanto e depois nada, foi o que eu pensei muitas vezes, perde-se o espanto com as pernas. Uma senhora que aí andava ficou maluca de dançar e tiveram que a levar, essa nunca mais morre, foi a dançar para a rua.

O sol é mal empregado em mim, lembra-me as coisas lá de fora e é tudo mal empregado em mim. Tu nunca soubeste dançar, não sabias de nada com as pernas, eras galante sempre no mesmo sítio... Este sol é uma demasia de mundo.

Está calor ou frio aqui? Nunca nada está bem, mas eu já nem sei porquê, lembras-te daquela cantiga? Aquela que eu gostava… canta uma qualquer, o que eu gostava de cantigas, canta uma qualquer, uma que dê com o sol. 


(Desenho de Marco Mendes)

4 comentários:

  1. "O peso que levamos nas pernas é todo feito de tempo" - excelente frase!

    O desenho também é lindíssimo.

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  2. Tens uma profundidade em seus sentimentos, em suas colocações que dá pra tocar, quase sentir a respiração, o suor, o cansaço, os passos indo... indo... indo... És belo!!!

    Mara Araujo

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