Tu não sabes, não sabes nada, mas um dia acordei com certezas coladas à pele. A janela estava aberta e não era suor, era um líquido pesado e eu abri os olhos e percebi tudo.
O peso que levamos nas pernas é todo feito de tempo. Levamos o tempo de passeio nas pernas até que um dia… sabes? Um dia o tempo farta-se e trepa por nós acima e ficamos… sabes?
Um dia espanto e depois nada, foi o que eu pensei muitas vezes, perde-se o espanto com as pernas. Uma senhora que aí andava ficou maluca de dançar e tiveram que a levar, essa nunca mais morre, foi a dançar para a rua.
O sol é mal empregado em mim, lembra-me as coisas lá de fora e é tudo mal empregado em mim. Tu nunca soubeste dançar, não sabias de nada com as pernas, eras galante sempre no mesmo sítio... Este sol é uma demasia de mundo.
Está calor ou frio aqui? Nunca nada está bem, mas eu já nem sei porquê, lembras-te daquela cantiga? Aquela que eu gostava… canta uma qualquer, o que eu gostava de cantigas, canta uma qualquer, uma que dê com o sol.
(Desenho de Marco Mendes)
"O peso que levamos nas pernas é todo feito de tempo" - excelente frase!
ResponderEliminarO desenho também é lindíssimo.
Adorei!
ResponderEliminarTens uma profundidade em seus sentimentos, em suas colocações que dá pra tocar, quase sentir a respiração, o suor, o cansaço, os passos indo... indo... indo... És belo!!!
ResponderEliminarMara Araujo
lindo!!:D
ResponderEliminar***