29.11.12

Calendária


É difícil ser a gente, não é?
Com esta dor aprumada ao peito
Com tantos pés sem uma dança
E muita terra comidos nos olhos
E muita carne escondida na pele

É difícil isto e amanhã
Um corpo que cai para o futuro
Um desejo maior do que a vontade
E tantas flores que não são beijos
E tantos sonhos que não são dias 

21.11.12

Idade Para Estar Calado


Tão novo e já sem metafísica. E eu que estudei, que resolvi as equações de Maxwell e de Schrödinger, que aprendi até as leis da termodinâmica e da relatividade. E depois nada, só este andar por cá, a dizer e a escrever coisas que às vezes se aproveitam e às muitas outras se vão perdendo.
Tão novo e já tão Esteves. Sem nada para lá de mim, um corpo tão pouco guerreiro entre forças e Deus, e sempre sem umas ou o Outro.
Deixei-me apanhar pelo tempo e pelos homens, foi isso, não foi isso? Agora como e deixo-me comer, certo como um relógio de trazer no bolso. Por onde anda o meu compasso metafísico? Pudesse eu ser um jovem antigo…
Tenho apenas a sorte inteira de haver velhos com ideias velhas. Homens e mulheres (alguns até alemães) que me dizem o que sou, e porque sou, e até como deveria ser.
O melhor é calar-me, ou dizer o que dizem, se pensaram tanto quem sou eu agora? O melhor é estar calado e esperar que passe, afinal não hei-de ser novo por muito mais tempo.

1.11.12

Queda


vai aqui uma qualquer coisa torta
como eu ser assim e tu tão outra
como eu amar, ou pensar que amo
em cada buraco de mim, por cada poro
e o teu sorriso triste de uma descrença
não sirvo, eu sei, não sou um que baste
e vejo-te fugir, de todos os teus olhos
para outros lugares, ou dias, ou homens
e mais que me endireite ou persigne, ou
cante as horas azedas, são noite os teus dias
e olhas, e olhas o espelho do que pareço ser
sem um riso, sem que digas afinal que
o dia é breve e  há outros céus onde voar
 
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