12.9.10

Cruzinha

Disseram-me mas eu não acredito
que um tempo era tudo assado,
os homens e as mulheres encontravam-se
faziam ou não faziam amor e depois sorriam.
Os homens, que raio, as mulheres, que raio,
para mais a fazer ou não fazer. Que vagares
e que modos os dessa gente sem propósitos,
sem ambições nem carreiras, dispostos ao tempo
e a sorrir como se o mundo fosse de alegrias.
Eu sei bem que é tudo assim como se vê,
uns e outros e outras com agendas escondidas
nos cus a fazer cruzinhas muito objectivas.
Chefe de duas pilinhas e um telefone, cruzinha
coordenador de tristezas e tempo deitado ao tempo,
cruzinha. CEO da puta que me pariu, cruzinha.
Depois um homem, uma mulher, copos e uma festa
de escritório, o vinho, o Lopes que engraçado,
vives aqui sozinho? Que casa tão grande, também
adoro o Cole Porter, dá-me matulão, ai que doida.
Os cadernitos pretos estão sempre ao fundo da cama,
o primeiro a acordar que o apanhe, é um igual ao outro,
no quadrado branco à frente das letritas: já te fodi,
cruzinha.

1 comentário:

  1. Tivesse essa cruzinha sido preenchida e os dois talvez já tivessem concebido que tudo se resume, efectivamente, a uma foda (duas ou três, vá, sendo muito bom como se afigura que seria) e podiam prosseguir, então libertos, com a vida lá fora.

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