Num tempo antigo o mundo era todo feito de noite. A Terra era uma pedra escura parada e morta num lugar que ainda não existia.
Nesse escuro sem fim o tempo durava muito tempo e os deuses jogavam à apanhada porque havia pouco mais que fazer.
Flávia era uma deusa e às vezes pegava na lua e corria pelo mundo alumiada pela sua luz frágil. Flávia gostava de saltar e de rir sozinha porque atrás dela vinha sempre Damião, também ele um deus que pendurava o sol na ponta de um pau e se apaixonava por Flávia porque pouco mais havia que fazer.
Uma dessas vezes em que Flávia corria, a lua estava nova e ela tropeçou na terra e caiu. Flávia rompeu-se em mil pedaços que caíram sobre a terra. Dos seus bocados formaram-se os mares, as plantas, as mulheres e o invisível.
O deus Damião assustou-se ao deixar de ver Flávia e atirou o sol para a frente, o mais longe que pôde numa vontade grande de a encontrar. A luz fugiu-lhe e também ele tropeçou na terra e caiu. Damião rompeu-se em mil pedaços que caíram sobre a terra. Dos seus bocados formaram-se os rios, os animais, os homens e os poetas.
Flávia e Damião foram os pais da terra e de tudo o que é. Flávia continua ainda hoje a fugir e Damião a correr atrás dela. É por isso que o sol vai sempre atrás da lua, que os rios procuram o mar, os animais as plantas e os homens as mulheres. É também por isso que os poetas não sabem da felicidade.
Ó Camarneiro, fazes-me lembrar tanto outra pessoa pá.
ResponderEliminarMuito belo o texto.
ResponderEliminarE é como dizes, ainda hoje os poetas não sabem o que é a paz.
Texto soberbo. Altamente.
ResponderEliminarGgostei imenso Nuno...está muito bom
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