Há cães escuros a lamber os cantos da cidade,
línguas ásperas feitas às pedras e ao resto.
Manda os olhos e o medo por onde os pés não vão,
há vidas por todo o lado.
Há abrigos órfãos de luz
onde a solidão se come às mãos cheias
e se canta baixinho para não acordar os vivos.
Há fomes que só se matam escondidas.
As vozes e o querer dobram esquinas, a luz não.
De dia é fácil ser homem por entre os homens,
o dia é avenida do tempo, rua direita.
À noite o corpo tem pés ligeiros e surdos
e o tempo faz-se de muitas horas compridas.
(Ilustração de Marco Mendes)
Boa!
ResponderEliminarHá fomes impossíveis de esconder e que, se saciadas originarão mais fome. Desastre. Quem sabe até, insanidade. É impensável não temer fomes assim.
ResponderEliminarUm texto magnífico.
ResponderEliminarOs meus parabéns.
Fez-me lembrar uma frase que Ernest de Hemingway disse um dia a um jornalista:
"À noite, no meio da solidão, todos acreditamos em Deus".
Um excelente trabalho neste post. Mais uma vez parabéns.
a noite esconde os "os outros homens", as outras vidas ... os que a nossa hipocrisia , politicamente aceite, teima esquecer
ResponderEliminaras palavras continuam muito intensas
:)