30.1.12

retrato de agora sem ti


afogo-me muito nestas tardes ao céu
um sol que não chega, não alegra nem cor
um cigarro nos dedos a queimar ar
e o tempo lento de agora menos um quarto
anda por aí amor às sombras de tudo
beijos que mordem olhos que olham
e um frio de ossos a suster-me a pele
se hoje o mar me tocar desapareço
como um poema de água nas mãos

23.1.12

Noite

Não quero poesia mas coisa de mãos
Um seio com a forma da palavra seio
Um corpo carregado de metáforas
E a métrica incerta dos teus beijos
Quero rimas feitas com os dentes
Morder-te as pernas com as pernas
E gemer iambicamente por ti
Quero-te do outro lado disto
Trocar os dedos pela boca
E as minhas noites por nós

16.1.12

Horas

Por aqui como ficaram horas à solta.
Pelo meio das razões sobrou um tempo
que não tem onde dormir, que não tem lugar.
Se as casas fossem paredes ninguém morava,
as casas não são feitas de paredes.
quadros pendurados em nada e não caem,
ninguémconta, são tempo e sorrisos.
Os dias bons são todos vontade, são querer muito
porque nãomais nada, sonho.
vidas tortas e nem tudo o que se mete nelas
fica onde nos possa servir. Há vidas muito tortas.
As minhas melhores horas são tuas,
tenho-as  espalhadas por todo o lado.
Lembro-me por exemplo... mas tu também te lembras,
foi um dia feliz que apagou tristezas e fazia muito calor.
Queria agora o teu corpo e chamá-lo meu.
Trata bem do corpo que foi nosso, como do resto.
Se puderes pendura-nos as horas num sítio bonito,
elas precisam de sol, foi sempre assim.
Desculpa-me mas vou agora dormir contigo,
não é maldade, sonho e um cheiro que ainda sinto.
Amanhã ou depois será como tu queres, mas hoje não,
hoje tu não te foste embora e eu ainda me sei fazer amar.
Assim que te perdi procurei raivas que me cegassem,
uma cegueira boa, de olhos que não vêem.
Não sou capaz de ódio, fico aqui a brincar com as horas
e choro e rio como se amanhã fosse outro dia.
Vou agora despir-me e chegar-me a ti,
não faças caso, sou apenas uma lembrança.

15.1.12

Baldio

Há homens para querer e outros que só se lêem.
Sentam-se em cafés com caneta e papel e despejam em palavras os amores que ninguém pratica.
São homens do lixo da gente, trazem no bolso cadernos-aterro onde se deita o que sobra, o que não cabe já em lugar nenhum.
“Tenho uma vida para cuidar, seguras-me aí o amor?”
E eles seguram, enterrados naquilo até ao pescoço, empestados de dor e lua.

Quando é que tudo se fez tão noite?

8.1.12

vem
    
        deitar
                  
                   te


                        no


                             meu


                                     poema

3.1.12

Sombra

Amar-te-ei de um amor calado
Secreto como coisas nocturnas
Silêncio onde chovam palavras
E nasçam cores fingindo orvalho
Um amor às escondidas de nós
Como a sombra de um sol
Como a dor antes da dor
Ou a dor depois da dor

 
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