7.7.10

Uma Esquina

Um café como outros cafés, desses onde se vai e por vezes se está. Ficava numa esquina e tinha duas janelas, cada uma virava para uma rua diferente. Eu estava sentado com a desculpa de um livro, ouvindo quem falava e olhando quem lá estava. As pessoas são engraçadas por detrás de livros e de coisas que são nossas, parecem bonecos a fazer o que lhes apetece.
O empregado falava com o patrão de casos acontecidos, alguém que foge sem pagar, a loira sem cuecas, essas conversas de empregado e patrão. "Ai senhor Carlos, eram umas pernas que pareciam elevadores..." No meio disso olhei por uma janela e vi gente a andar, com pesos, com sacos, com nada. Era hora de voltar a casa. São horas tensas e confusas, pouco dadas a pormenores, o jantar, a mulher, os sapatos que apertam, mas foi também hora de espanto, mais para mim que há anos que não volto a casa. Os senhores gordos e os outros, as meninas e as mulheres que me passeavam os olhos pela primeira janela falhavam clamorosamente ao chegar à segunda. Não estavam, não eram, ficavam-me as consequências perdidas, desviadas por nada. Para onde ia tanta gente? Se era uma esquina, um caminho que dá noutro... ah gente arrenegada.Nessa esquina maldita contei eu entre o que vi, que foi só hora e meia de aflição, quarenta e duas pessoas perdidas para todo o ser. Enfim, não tanto assim, da janela dos destinos emergiram sem pressa três cães e um pardal. Todos riam, os animaizinho. Que alegres e joviais criaturas. 
 
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