29.9.09
Coisas da Rua
27.9.09
Uma Fábula Eleitoral
As
22.9.09
Procura-se II
19.9.09
Menina em Forma de Recta / Bambina in Forma di Retta
Menina em Forma de Recta
A
A
O
A
Bambina in Forma di Retta
La verità è che non era più una vera bambina. O meglio, sì, era una vera bambina. Era rimasta così quando tutti gli altri non sapevano più cosa fossero. Qualcuno avrà detto “lei è cosi com’è” e ha detto bene.
Dal momento in cui imparò a guardare, decise di farlo soltanto in una direzione, avanti. Tutto il resto lo intuiva, lo immaginava, lo conosceva senza doverlo vedere con i suoi occhi fatti per guardare in avanti. Il fuori, l’altro, il diverso erano per lei un probabile e rumoroso mondo fatto di cose e persone straniere, abitanti fantasmi di un mondo oltre, un mondo che non era il suo. Il suo mondo rimaneva li, davanti ai suoi occhi chiari, i suoi occhi stretti, focalizzati al di là di quanto si possa vedere con uno sguardo.
Per la bambina tutto era semplice e retto, lineare. Una variabile di partenza, un’altra di arrivo e una sua pendenza personale; non c’era nient’altro. Quelli che incrociavano la sua strada erano per lei piccoli punti, le intersezione tra una curva (la curva di una vita fatta di capricci) e la sua retta. I fiumi non vanno dritti perché sono costretti da monti e valli che non sanno ignorare, ma la bambina rompeva i monti e costruiva ponti sulle valli che non vedeva, che non erano per lei.
La distanza più corta tra due punti è una voglia immensa. Una voglia senza distrazione, una voglia che non balla, che canta sempre la stessa musica dei giorni. Il resto è schiuma e tempo perso, un mare fermo che si agita senza perché. Alla bambina piaceva la terra ferma dove i piedi non scivolano, dove il passato rimane dietro, segnato dalle impronte.
Per due volte l’amore accadde alla bambina, due amori veloci, amori di percorso. La prima volta che si innamorò fu per un’altra retta che acconsentì di esserle parallela, un amore a una distanza piccola, ma non trascurabile. La distanza tra due mani che quasi si toccano, giorno dopo giorno, quasi, sempre quasi.
L’altra volta lei non lo chiamò amore, nessuno lo chiamò, fu un avvenimento che non avvenne. Una sinusoide la intersecò diverse volte finché diventò anarmonica, lasciandosi dietro il tratteggio tipico di un incidente.
La bambina segue la strada che deve seguire e non piange e non canta. Chi guarda avanti non ha tempo per pensare troppo. Una variabile di partenza e un’altra di arrivo, una traccia dritta quasi continua, quasi. I punti bianchi non le appartengono, sono spazi e tempi di altri che un giorno potranno anche riempirli. La voglia degli altri è una voglia di altri.
14.9.09
Acordar um Dia XXXIII
10.9.09
Procura-se
7.9.09
Mariana (Quarta e Última Parte)
A partir desse momento tudo mudou. Essa consciência do inevitável, da punição infalível, mudou a perspectiva e amainou exaltações. Estávamos juntos, para o melhor e para o pior, na vida (minha) e na morte (sua). Ela era como era e eu também assim, restava-nos baixar as cabeças e puxar o jugo. Talvez aprendêssemos a assobiar baixinho e a chorar como quem respira, sem pensar no gesto nem saber porquês.
Os tempos que se seguiram fizeram-se de compromissos. A voz da Mariana continuou estridente, mas tornou-se contida, quase serena. Começou também a cuidar a linguagem, evitando certas palavras e usando outras que me vai ouvindo. Deixou os lamentos e os protestos e passou a falar de coisas que sente, de memórias de infância e da aldeia que deixou um dia.
Por vezes dá-me conselhos e diz-me que está tudo bem, outras vezes fica ali calada a sorrir porque me pesa os cansaços. Em troca eu tento enriquecer-lhe os sonhos. Leio histórias românticas que são do seu agrado e sigo a telenovela das nove. Comecei também a perguntar aos meus colegas coisas da vida deles, dos filhos, das mulheres e os filmes que têm visto, ah, os filmes. Vamos ao cinema duas vezes por semana, ao início era um filme para mim (sem beijos) e outro para ela (sem complicações), ultimamente começa a ser difícil distinguir.
A Mariana apresentou-se há exactamente dois anos, mais ou menos. Depois foi o que se viu. Acabámos por nos tornar numa espécie de casal quase vulgar e quase feliz. Como tantos, não todos. Talvez gostemos mesmo um do outro, talvez tenhamos descoberto um tesão impossível e assim inesgotável. Talvez sejamos uma simbiose necessária de vida e morte, dia e noite, ser e não ser.
Se eu já pensei? Já. Um frasquinho de comprimidos às cores e a janela aberta para o gato procurar outra casa. Partiríamos os dois para mundos que não conhecemos. Pensei nisso várias vezes, mas tenho dúvidas. Desconfio do além e não me quero pôr nas mãos de Um Qualquer. E depois quem me garante que eu a encontro, que ela existe fora de mim? Que outro mundo me poderia servir se eu nunca cheguei a perceber este, assim finito e cheio de homens? Enquanto penso nisto o gato olha para mim. Ele que também sabe coisas.
5.9.09
Mariana (Terceira Parte)
Que diz um homem às cinco da manhã deitado na cama receando adormecer? Um homem que treme com medo de uma ex-prostituta ex-viva sem papas na língua e com deficiências gramaticais?
Um homem faz perguntas, perguntas que são só uma: Porquê a mim? De todos os clientes da Mariana Marlene, por que fora eu o escolhido para cumprir a punição? Que poderia justificar uma tal arbitrariedade?
Sempre fui um homem discreto, incapaz de incomodar Deus com ofensas ou rogos, e Ele respondera da mesma forma, sem nenhum milagre ou praga a assinalar, mas agora isto... Perguntei bem alto uma e outra vez, porquê eu? Não me dirigia ao Altíssimo mas sim à Mariana, se me ouvia em sonhos talvez se dignasse a responder numa próxima oportunidade. Por essa altura eu estava certo que haveria outras oportunidades.
A resposta chegou à tarde, durante uma sesta no gabinete. Incapaz de aguentar o corpo entreguei-o por breves instantes ao cadeirão em pele. Foi quanto bastou. “É que o Mário não sabe... posso chamar-lhe só Mário? Mesmo que não pudesse, eu chamo-lhe o que quiser e mais nada, olarilas. O que o Mário não sabe e nem adivinha é que foi o meu primeiro cliente, ah pois foi, o primeirinho... eu tinha vindo da aldeia, e nem sabia ao que vinha, foi o senhor Antunes é que tratou de tudo... um sabidão, um safardolas que conhecia mais desta vida do que o padre da missa, olarilas. Eu acabadinha de chegar da aldeia e ele a dar-me as roupitas de andar na vida. Tens de ir ver um senhor, fazes assim e assado e boca calada que ninguém te paga para andares a tocar corneta, ouviste minha linda? E eu lá fui e assim foi. O meu primeiro cliente... e olhe, antes o senhor que outro, que depois de si foram muitos e quase todos piores e mais porcos. Ao menos o senhor era de respeito, não sei se é da picha curta ou quê, mas pelo menos era de respeito...”
Fiquei esclarecido. Fiquei também desesperado e mortificado, mas esclarecido. Um gesto de fraqueza irreflectido, um número de telefone marcado e eis-me com a existência entrelaçada a uma mulher que eu tinha descartado juntamente com o tesão. São sempre os tesões a tramar as vidas dos homens. Uma pessoa estuda e trabalha e acredita em ideias e afinal a vida vai guiada por um pedaço de carne que não conhece a razão nem vontades que não são as suas.
(Continua)
4.9.09
Mariana (Segunda Parte)
O duche lavou-me o
Voltei
Eram muitas as
(Continua)