29.10.14

Padecência



Um morto grave, dos que morrem e continuam a morrer
Tenho amigos que morrem todos os dias, e mais, e sempre mais
Amigos que têm cancros nas ideias, e nas falangetas, e nos propósitos
Cancros que nem a quimio, nem o caralho que foda os meus amigos
Um que era cancro antes de ser amigo, tão doença antes de ser
Outro que fala cancro, que pensa cancro, que se propaga
Amputo, transplanto, irradio, e os amigos metástases de mim
Sou parte de tanta coisa mortal, um caroço na cabeça da gente
Acordo por sonhos de fazer mal, acordo, morro, e vou matando
Fuma, bebe, come, mas não me fales, ri-te mas não me chames
Sou como tu, hei-de queimar e passar como um sorriso de pétalas

1 comentário:

  1. Um cancro mental, metastatizou grande parte de Portugal, felizmente não padeces de tal,
    pois a tua Padecência é genial. Esta morte lenta, que tudo acinzenta, deste país muitos afugenta. Até quando, Portugal aguenta?

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