Nós, e eu, e os outros, estamos mortos Senhores, mortos. Fomos paridos nos viveiros das vossas crenças Senhores. Fomos adubados com as vossas ideias iluminadas e nascemos já mortos, Senhores.
Mamámos do comunismo e do anarquismo e do futurismo e do fascismo e do capitalismo e do modernismo e do existencialismo e do pós-modernismo e da puta que vos pariu, Senhores.
Aprendemos a desejar, a ganhar, a comprar, a sofrer, a correr, a trabalhar. Mas não aprendemos mais nada, não sabemos mais nada, não temos memória de nada, Senhores.
Gostaríamos de ter opiniões e de ser inteligentes e pensar o mundo e dizer que não ou talvez, mas nós não sabemos nada e não sabemos saber nada. Somos coisas de querer, não somos de pensar, Senhores.
Compramos o belo feito porque nos disseram que é belo e porque devemos comprá-lo. Nós não fizemos o belo. Nós ainda não fizemos o belo, Senhores.
Não temos vontade porque já nascemos com desejos. Mas nós não desejamos o que desejamos, Senhores.
Nós estamos depois do fim e antes do começar de tudo o que é grande. Nunca nada nos é grande, Senhores.
Não sabemos fazer revoluções e não podemos fazer a guerra porque nós não temos sangue nem corpo. Não temos corpo, Senhores.
Estamos afogados em passados e afogados no futuro. Não soubemos inventar nenhum dos dois e assinámos de cruz um contrato a tempo indeterminado. O nosso único contrato a tempo indeterminado, Senhores.
Nós não sonhamos por nós. Os nossos sonhos são feitos em estúdio e os papéis são-nos dados já escritos. Escritos por vós, Senhores.
Estamos fartos de ser enxames de trabalho, enxames de prazer, enxames de consumo. Queremos o luxo de um nome próprio e uma vida por inventar. Queremos ser livres de uma liberdade que nos foi imposta. Mandar ao ar a ciência e a arte que não procurámos e que não sabemos para que serve. Queremos a tristeza em vez da depressão, a alegria em vez do delírio. Queremos vidas feitas de um tempo e de uma realidade à nossa medida. Queremos um corpo e uma cabeça e um sexo com defeitos e apetites. Queremos levantar o alcatrão e desenhar outros caminhos. Queremos correr estradas que nos levem a um destino todo por descobrir. É isto que queremos, Senhores.
o texto me tocou. Tenho essa sensação de "estamos perdidos".
ResponderEliminarGostei muito deste texto. Parabéns. João Branco, Cabo Verde
ResponderEliminarPerdidos nunca!
ResponderEliminarSe nunca lutarmos nunca venceremos mas se lutarmos todos os dias, garanto vos que um dia vamos vencer!!
a luta faz se na rua.
no trabalho
no circulo de amigos
na família
nas férias
no metro
à noite e de dia
A luta faz se AGORA
e não te textos e palavras bonitas....
Informa te e luta!
Gostei deste espaço