Comeu-se, comemos. Ele mais do que eu, incomparavelmente mais do que eu. Uma vez saciados saímos para dar uma volta. Uma volta como quem diz... fomos até ao bar mais próximo onde continuámos as nossas estranhas práticas de consumo. Ele por debaixo da mesa e eu a pedir bebidas como se me ardesse o fígado. Ficámos embriagados em menos tempo do que o que leva a cantar “O Romance do Falso Cego” e se o sei é porque o Marcelo o cantou, e eu com ele. Não chegámos a acabar o romance, mas a certa altura isso deixou de ser importante.
Apercebo-me agora, mais do que quando aconteceu, da figura que devo ter feito. Os olhos fixos numa cadeira vazia, indicador espetado a bater o compasso e a voz fugidia a repetir os finais dos versos. Assim me terão visto os que me viram e melhor fora que não. Isto dos amigos invisíveis tem os seus encantos, mas não faz bem à imagem de uma pessoa.
Dali, para casa, ambos os dois num slalom virtuoso que nem precisava de obstáculos. E depois, depois risos e confidências como se tudo fosse natural e as noites pudessem terminar assim sem sentido.
Dali, para casa, ambos os dois num slalom virtuoso que nem precisava de obstáculos. E depois, depois risos e confidências como se tudo fosse natural e as noites pudessem terminar assim sem sentido.
Não me lembro do que foi dito, mas engracei com o tipo, sabia coisas de mim e tinha-me estima. Ri-me com ele e talvez tenha até chorado, foi uma dessas noites. Foi o início e não foi mau. O Marcelo viera para ficar, imaginário ou não era um tipo engraçado que ouvia o que eu dizia. Era também capaz de dançar em chinelos e declamar poemas empoleirado numa janela. Os meus poucos amigos não faziam destas coisas, eram reais mas eram chatos e a vida é curta e a vida é triste e eu precisava de um Marcelo, o resto são psicanálises e ciências que me não interessam.
(continua)
Vim do Twitter para aqui... vou continuar a segir o Marcelo e mais o que vierQ ;)
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