Não posso porém deixar de me espantar. São certas horas costeiras de um cenário tão preparado, tão assim sem palavras. Como por exemplo daquela vez em, lembras-te não lembras? Como dessa vez. Essa mesma coreografia rigorosa e descuidada que resultou em beijos e palavras excessivas. O desenho das gaivotas que olhavam para nós à espera de entusiasmos de voo e vento. O baixo-relevo de muitas conchas exaustas à nossa espera. Sacanas das conchas. E isso era só o que nós víamos, dos peixes eu adivinhava outro engenho, bailados sóbrios com reflexos de extravagância. E tu também adivinhaste, não foi? Sacana de ti.
Havia também o resto, os colegas de espécie, os que corriam e faziam pose, os que serviam cafés e entravam no mar como se fosse deles, (o mar que era nosso, lembras-te que era nosso?). E as crianças tão espertas que faziam de gente? E os que cantavam sozinhos a fazer conta de silêncios? E os que escreviam versos nojentos que não nos mencionavam?
Outros sorriam com um ar inteligente de haver espreitado segredos. Mas que segredos? Se eles soubessem (mas tu não lhes digas, não lhes digas nada) que esta luz branca e enviesada fez cento e cinquenta milhões de quilómetros só para me queimar os olhos e fechá-los para ti... Sacana da luz. Mas foi assim que fizemos, não foi assim que fizemos?
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