Acordou de repente com a luz do dia a abanar-lhe o espírito. Viu o tecto do quarto coberto de algas, os raios verdes de um sol azul a entrarem pela janela, e percebeu que o sonho não tinha ficado nos lençóis. Abriu caminho por entre as fêmeas que lhe ocupavam a cama e dissimulou o espanto perante o número improvável de seios. Correu através de um corredor sem fim até chegar à casa de banho que se abriu debaixo de si. Mirou-se num espelho negro e viu-se sem dentes nem cabelo numa cara que era a do seu pai e de um certo filho que não tinha tido.
Calçou uma meia verde num pé e uma meia amarela no outro pé numa ânsia nervosa de antecipar o destino, mas saiu de casa com os pés trocados e o pijama em desalinho. Cumprimentou todos os animais que encontrou pela estrada, mesmo os que o tinham abandonado numa manhã de S. João (com fogueiras frias que levavam ao mar, mesmo mesmo à beira mar).
Foi cruzando ruas com nomes de canções de outras músicas que não essas, e começou a habituar-se às quedas, essas terríveis quedas que ao início lhe causavam tanta angústia. Descobriu que lhe bastava adormecer, uma brevíssima fracção de segundo que lhe amortecesse a queda e o fizesse acordar no cimento em forma de relva que lhe picava os pés trocados (os dois pés trocados).
Foi caindo e voando a preto e branco até chegar à porta do escritório. Um escritório roubado de um filme que nunca tinha lido e onde um porteiro o saudou por um nome que poderia muito bem ser o seu. Teve o cuidado de escancarar a braguilha, sujar a gravata de molho de tomate e entrou triunfante na fábrica absurda e redundante onde o baile já tinha começado. E foi nos braços da Teresinha, a Teresinha de olhos brancos e poluções precoces que girou e riu até ser noite escura, muito mais escura do que pode e deve ser a noite.
Deu por si deitado num cansaço de muitos anos e de muitos risos contidos, cheio de mágoas e desejos mal cumpridos, com pessoas conhecidas que lhe ajeitavam os cobertores. Fixou os amigos e os outros que o poderiam ter sido e fechou os olhos de todos eles com os seus.
Chorou então os últimos medos e matou os últimos desejos, preparou-se para um derradeiro sonho de ideias e decisões, de pessoas que dizem “como está” e “muito gosto em conhecê-lo”, que vivem segundo princípios e objectivos e outras coisas importantes e, nesse instante, nesse mínimo instante em que uma parede deixa de ser parede para começar a ser chão, teve a certeza de que nada é mais do que tudo o que poderia ser.
Calçou uma meia verde num pé e uma meia amarela no outro pé numa ânsia nervosa de antecipar o destino, mas saiu de casa com os pés trocados e o pijama em desalinho. Cumprimentou todos os animais que encontrou pela estrada, mesmo os que o tinham abandonado numa manhã de S. João (com fogueiras frias que levavam ao mar, mesmo mesmo à beira mar).
Foi cruzando ruas com nomes de canções de outras músicas que não essas, e começou a habituar-se às quedas, essas terríveis quedas que ao início lhe causavam tanta angústia. Descobriu que lhe bastava adormecer, uma brevíssima fracção de segundo que lhe amortecesse a queda e o fizesse acordar no cimento em forma de relva que lhe picava os pés trocados (os dois pés trocados).
Foi caindo e voando a preto e branco até chegar à porta do escritório. Um escritório roubado de um filme que nunca tinha lido e onde um porteiro o saudou por um nome que poderia muito bem ser o seu. Teve o cuidado de escancarar a braguilha, sujar a gravata de molho de tomate e entrou triunfante na fábrica absurda e redundante onde o baile já tinha começado. E foi nos braços da Teresinha, a Teresinha de olhos brancos e poluções precoces que girou e riu até ser noite escura, muito mais escura do que pode e deve ser a noite.
Deu por si deitado num cansaço de muitos anos e de muitos risos contidos, cheio de mágoas e desejos mal cumpridos, com pessoas conhecidas que lhe ajeitavam os cobertores. Fixou os amigos e os outros que o poderiam ter sido e fechou os olhos de todos eles com os seus.
Chorou então os últimos medos e matou os últimos desejos, preparou-se para um derradeiro sonho de ideias e decisões, de pessoas que dizem “como está” e “muito gosto em conhecê-lo”, que vivem segundo princípios e objectivos e outras coisas importantes e, nesse instante, nesse mínimo instante em que uma parede deixa de ser parede para começar a ser chão, teve a certeza de que nada é mais do que tudo o que poderia ser.
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